Monday, February 12, 2007

OK, esse saiu grande. Pode parecer estranho, mas tenho que aprender a resumir com o Grande Danilo.

Tomo o Segundo: Em que falo sobre as diferenças entre a China e o Mundo Real.

Apesar deu ter passado boa parte do tempo entre o último post e esse em casa lendo Anansi Boys e Sandman e jogando PS2 (eu conquistei um terço da China), muitas coisas aconteceram desde a última vez que eu escrevi, sem contar antes deu ter escrevido, e até durante o período em que eu escrevia. Eu até fiz notas mentais sobre vários eventos cômicos, ou eventos de profundeza filosófica, mas infelizmente a minha mente anda muito preocupada com a conquista da China, e tenho que lembrar dos nomes exóticos de centenas de cidades e pessoas, então boa parte desses eventos nessa farsa que as pessoas insistem em chamar de "mundo real" tiveram que ser esquecidos para acomodar ao mundo mais simples e belo da China entre 182 e 250 depois daquele cara lá, aquele barbudo que foi enforcado na cruz. Aqueles que habitam o tal mundo real não conhecem a beleza de uma existência guiada inteiramente por menus e caixas de texto elegantes que controlam tudo desde a conquista sangrenta das planícies centrais da China até uma noite de bebedeira com um amigo. De fato, é possível que as pessoas que habitam o plano material conheçam os prazeres de realmente sair com seus amigos para beber, ou de tirar um fim de semana para casualmente trucidar as forças do ardiloso Cao Cao. A diferença, meus amigos, é que na vida real:
1) Você estaria realmente bêbado, e todos sabemos as besteiras que bêbados fazem, dizendo que amam todo mundo e vomitando dentro das gavetas de talheres de seus amigos de longa data.
2) Se você ainda estiver bêbado quando for enfrentar Cao Cao, é bem provável que você perca, afinal, ele realmente é ardiloso. O pior, porém, virá na hora que você, um grande lorde soberano de Shang Ping ou Li Ma ou algo assim, for julgado pelo lendário comandante, guerreiro e senhor do Reino de Wei. Ainda completamente bêbado. Imagine a expressão de desgosto e vergonha que passará pela cara de todos os generais presentes quando você balbuciar "Apesar de tudo, Caozim, eu ainda te amo cara... Tu é muito bróder. I lov..." a última frase sendo interrompida por um daqueles arrotos nojentos que saem com um pouco de vômito, vômito esse que serve como estimulo para uma verdadeira corrente fluvial de líquido alaranjado, decorado aqui e ali e por pedaços de alface semi-digerida e um ou outro amendoim milagrosamente inteiro.

É, amigo. O mundo real não é tudo aquilo que eles dizem. Mas mesmo assim, decidi me aventurar por ele algumas vezes nessas últimas semanas, e aqui estão os relatos de alguns desses momentos.

Tomo o Terceiro: Um (três) guatemalteco (chileno-brasileiro)(s) em Nova York (e Washington DC).

Na minha festa de despedida aí no Brasil, o Diego (Barrios) me deu boas notícias: ele, o Ale e a Pamela iriam vir aqui pros EUA, para visitar Nova York e DC, uma semana e pouco depois de eu chegar aqui! Foi uma beleza, até porque eu mal tinha o visto no período imediatamente anterior a minha ida, devido à sua viagem para as terras mágicas de Cumuruxatiba, onde os pastéis são italianos e gostosos a beça. Na primeira semana que eu estava aqui, eu tentei entrar em contato com o Diego pelos meios mais variados, e invariavelmente falhei, até que consegui falar com o Alejandro e assim consegui o telefone dos lugares onde iam ficar em NYC e em DC. Mesmo assim, o contato com eles em Nova York foi difícil, pois não sabia o sobrenome que a Pamela tinha usado para registrar os quartos (acabou sendo Diaz) e o Ale, quando me mandou o número do quarto, me mandou o número errado. Assim, acabei nem indo para NYC para fazer coisas com eles, apesar de ter conseguido falar com eles nos últimos dois dias deles lá, e acabei por esperar eles aqui. Acabou que no primeiro dia, não saimos pois eles chegaram tarde aqui, e os moleques nem conheciam essa prima da Pamela e a família dela, então ficaram lá se conhecendo, como bons familiares podem e devem fazer.

No dia seguinte, a gente (eu, Diego, Ale, Pamela) foi andar pelo Mall, a parte central de Washington onde ficam boa parte das coisas famosas: O obelisco gigante e aleatório, o capitólio, altos museus, e ali do lado a Casa Branca. A gente passou um bom tempo no Air and Space Museum, que é bem interessante, e vimos um filmezinho aloprado sobre colisões espacias no planetário, e também passamos na frente de todos os prédios famosos citados ali em cima, e depois fomos cada um para a respectiva casa, para se aprontar para a NOITADA EXTREMA.

OK, nem tão extrema. Mas a gente ia sair aleatoriamente por Washington tentando achar o que fazer. Primeiro, encontrei os moleques em um Hookah Bar em Georgetown, um lugar cheio de pessoas ricas com frio e alguns bares de jazz interessantes porém caros, então decidimos ir nessa para outro lugar. Primeiramente, iamos a uma festa de Hip-Hop e Jungle no outro lado da Cidade, mas tava bem tarde, já, e meu pai disse que a área era meio barra pesada, então no fim decidimos ir pra outra área-aleatória-com-coisas-para-fazer-a-noite, em volta do Dupont Circle. Aqui que entra a parte mais extrema da noite, seguida pela segunda parte mais extrema, e logo depois pela terceira parte mais extrema, após a qual os eventos ficaram bem mais centrados e comuns. Decidimos, antes de chegar no Dupont circle, que queriamos comer uma pizza barata e gigante. Mas, andando por esses arredores, não conseguimos achar nada aberto que se acomodasse às nossas especificações, e quase que a gente desiste e entra num subway, mas a força de vontade venceu contra o vento gélidos das montanhas nekkroinvertidas do norte, e nós seguimos adiante. Logo, passamos um lugar que eu reconheci, um bar/strip club que a Tina, ao passarmos na frente dele outro dia desses, tinha dito que era "the seediest and most disgusting strip joint in town", e decidi comentar isso com os moleques. Logo que eu havia acabado de ouvir isso, ouço uma voz gritando "Diogo!", e eis que dentro de um carro do outro lado da Rua está a Tina, agora já dizendo "You crazy motherfucker! What are you doing?" Logo expliquei minha situação, e ela nos levou para uma rua no bairro dela onde tem várias coisas acontecendo a noite, inclusive muita pizza, e nos deixou lá enquanto ia deixar ao carro em casa. Mas agora ao assunto importante: a pizza.

Andando na rua, vimos logo mais de um pequeno estabelecimento com placas de neon dizendo "Giant Slice" e "Authentic New York Style" e coisas do tipo na frente. Fomos logo nos adentrando na pizzaria mais próxima, e todas nossas rezas foram atendidas. Infelizmente, não tinha uma câmera, mas posso afirmar com categoria que cada fatia de pizza era pelo menos desse tamanho, e com uma aparência bem mais apetitosa:


Cada um de nós comeu duas fatias e ficou razoavelmente satisfeito, e, depois de não conseguir falar com a Tina (ela tinha esquecido o celular no carro), a gente foi andar na rua para ver o que tinha pra fazer. Infelizmente, uns 10 minutos depois de termos começado a andar pela tal rua da noitada, o Alejandro começou a passar mal, tanto que mal conseguia andar, então fomos lentamente subindo de novo a rua, passando no caminho por mais lugares com pizza gigante, inclusive um que tinha um disco ball e música bombante e tudo mais, onde o Alejandro tentou usar o banheiro que, infelizmente, era inexistente. Voltamos então para a primeira Pizzaria, onde o Alejandro tentou novamente usar o banheiro (não era adequado para o que ele tinha de fazer), e onde ficamos esperando ele e comendo mais uma fatia de pizza enquanto ele ia no bar que ficava do lado da Pizzaria. Uns 20-25 minutos depois, tendo se livrado sua aflição com a cura mais velha conhecida pelo homem, Alejandro emerge triumfante do bar, e decidimos que depois desse evento, já é hora de voltar para casa (e também já eram mais de 2 da manhã). Mais uma caminhada no frio, quase nos perdendo algumas vezes, e achamos a estação de metrô mais próxima, voltando para as nossas respectivas casas.

No dia seguinte, eles a princípio viriam aqui para a minha casa, e andariamos aqui pelo bairro, mas infelizmente não rolou, então acabei indo prum jantar delicioso na casa desses parentes deles. Conheci várias pessoas que eu não me lembro o nome, e o primo deles, Vittorio, que pintava bem pra caramba e tinha idéias vagas sobre um jogo de Star Wars que ele iria propor para a Lucas Arts que seria, de acordo com ele, sem dúvida o melhor jogo de todos os tempos. Depois do jantar, assistimos Fearless do Jet Li, e logo depois chegou a hora das despedidas e abraços e frio. E é isso... não fizemos nada de muito emocionante, mas foi bem divertido, como qualquer coisa é quando você está acompanhado pelos irmãos Barrios.

Tomo o Quarto: Em que a frase "fuck this shit" é dita pelo menos 63 vezes.

Certamente já devo ter mencionado aqui no blog (ou não, e to com preguiça de checar) a família Canuto, também conhecida como "a família do chefe do meu pai". Bem, tenha eu mencionado ou não, eles são as pessoas com quem a nossa família mais se enturmou até agora (com exceção da minha irmã, que também tem altos amigos da escola). Todo fim de semana a gente faz alguma coisa junto, ir jantar, esse tipo de coisa. Bem, no sábado eu estava sem ter o que fazer então decidi ligar lá pros Canutos pra gente fazer alguma parada, e decidimos ver filme na casa deles. Eu trouxe uma porcalhada de filme, mas ninguém se animou pra ver nenhum, então ficamos um bom tempo vendo UFC e outras lutas cabulosas, até que eu e dois dos Canutos, Pedro e Otávio, decidimos ir pro Cinema (ninguém mais se animou e a minha irmã foi pra casa). Ah, talvez eu devesse apresentar rapidamente cada Canuto:
Otávio: O mais velho dos Canutos que eu conheço (sem contar os pais, claro), ele tem 24 anos e trabalha como mecânico por aqui.
Pedro: 19 anos, estuda numa universidade em West Virginia, terra de filmes de terror e cidades estranhas cheias de pessoas que casam com a prima (no mínimo). Toca guitarra e parece com uma mistura do Márlon com talvez o Kashi e mais elementos misteriosos.
Luiza: 16 anos, estuda numa High School lá em Bethesda, toca baixo, faz fotografias e pans.
Lucas: 16 anos também, estuda na mesma high school que a irmã, toca batera (bastante bem!), e está doente a mais de uma semana.

Já eram 11:45 quando nós decidimos ir pro cinema, então tivemos que ir pra Rockville, que é mais longe, pois só lá tinha uma sessão num horário que ainda rolasse de pegar. A gente decide ver The Messengers, e já dava para ver de antemão que tipo de filme era: terror hollywood-iano de baixo orçamento (para um filme de hollywood) que vai em qualidade de tenebroso até aceitável. A gente consegue chegar lá um tempo antes do filme começar, e, conversando sobre o novo filme do Motoqueiro Fantasma e do 300 de Esparta, descubro que o Otávio tinha mais de 2,000 revistas de HQ, mas que tinha vendido quando veio pros EUA, a quatro anos atrás, pra poder ter um dinheiro quando chegasse aqui. É claro que há uma boa sensação quando você descobre que está entre camaradas de quadrinhos, especialmente quando eles não são aqueles nerds de quadrinhos obsessivos e estranhos que aparecem de vez em quando e falam com uma voz meio amedrontadora, ou simplesmente chata bagarai.

Bem, entrando no cinema depois de gastarmos bem mais dinheiro que deviamos comprando refrigerantes gigantes na entrada, logo percebemos algo estranho. Tinha um cara sentado umas 3 fileiras atrás da gente que não parava de falar. Primeiro, achei que ele estava com alguém do lado, mas logo olhei pra trás e vi que não era o caso. Depois disso, o filme começou, e eu comecei a prestar atenção no filme, mas o cara não parava de falar. Nesse momento, eu não tava prestando a mínima atenção no que ele tava falando, mas já tava enchendo bastante o saco de todo mundo no cinema. Depois de alguns poucos minutos, olhei para traz e percebi que o cara não tava nem com um celular. E ele não tava falando do filme ou algo assim, pelo menos não de uma maneira minimamente compreensível. O dialogo dele com ele mesmo era algo assim:
"Fuck this shit. Fuck this shit fuck this shit fuck this shit fuck this shit fuck this shit fuck this shit fuck this shit." ele olhava pro lado e aí falava algo diferente mais baixo. A voz dele estava entre angustiada e irritada, mais angustiada e triste quando ele falava mais baixo, e não dava para entender direito, e mais brava quando ele repetia "fuck this shit" umas 20 vezes de cada vez. Quando passam uns 15 minutos de filme, o cara pega sua mochila, e sai do cinema. 5 minutos depois, ele volta, se senta, e começa de novo. fuck this shit fuck this shit fuck this shit man, fuck this SHIT! people .... doing.... fuking.... trust.... fuck this shit, fuckthisshitfuckthisshitfuckthisshitfuckthisshit. O casal atrás da gente era o que mais estava bravo com isso, comentando várias vezes, mas o cara não parecia prestar a menor atenção. Depois de mais uns 20 minutos, o cara já tinha saido e entrado de novo, e o casal foi embora. Mais uns 5 minutos e entra um funcionário do cinema, fala algumas coisas com alguém (assumo que com o cara que tava falando, mas achei estranho que ele foi pro outro lado da fileira), e logo foi embora. O cara que tava falando parou de falar. Mais uns 20 minutos se passam, e alguém vai entrando no cinema, com uma lanterna, que vai direto na minha cara e fica nela por alguns segundos (não foi agradável: a lantera era bastante forte). Depois, o cara que entrou, que era claramente um policial, sobe até a fileira do cara falante e fala "Good evening sir" ao que o homem falante respondel algo que eu não entendi. "Would you please step outside, sir?" ele disse, e juntos foram o cara falante e o policial.

Essa série de eventos foi mais interessante que o filme, eu diria, que é bastante genérico, tem seus momentos, mas é bastante inconsistente e não tem aquele tchans que faz de um filme de terror ser bom, nem é trash pra todo mundo se divertir loucamente. Eu fico pensando quão necessário era realmente chamar um policial pra lá... talvez se o cara não fosse negro no subúrbio majoritariamente branco de Rockville não tivessem chamado. De uma maneira ou de outra, tava bem claro que o cara tava tendo um ataque de nervos, e aqui nos EUA acho que os doidos tendem a ser mais perigosos que em outros lugares. Ou também já sou infectado pela paranóia extrema daqui (realmente é escrota! se percebe nas coisas sutis do dia a dia tanto quanto nos eventos grandes como o vexame dos Mooninites).

1 Comments:

Blogger Danilo e o Fiel Hubert said...

Furtado furtando o primeiro comment! Haha!! Entendeu a piada?! Hahahaha!!!

Marotissimo pedaco de pizza, é exatamente como os pedacos de pizza bons e baratos pra cacimbola que se acham aqui em "Odê", exceto que aqui esses pedacos de pizza são feitos por imigrantes bacanas que falam dinamarquês com um sotaque pesado (que nem eu, só que eles sabem fazer pizza direito).

E marotissimo conto sobre a China e mundo de verdade, que como de costume, rendeu uns espasmos e outros problemas musculares em mim por gargalhar tão exageradamente enquanto tentando esconder que você está rindo desesperadamente (coisa que eu infelizmente tenho que fazer aqui para os dinamarqueses não acharem que eu sou um doido psicótico, e sim um doido inofensivo).

E terceiro, um marotissimo maroto marotando muito massa!

6:51 AM  

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